aceitação

Aceitação

Robert Naseef, psicólogo


Eu pensei que nunca poderia aceitar o autismo de meu filho. Após vinte e nove anos, eu, por vezes, ainda imagino quem o meu filho poderia ter sido. Ainda assim, parece que foi ontem que segurei Tariq pela primeira vez. Meu coração batia excitado quando segurei meu filho junto a ele e nossos olhos se encontraram. Eu tinha visões de estar jogando "baseball" e construindo aeromodelos junto com ele. Tudo mudou. A "bomba do autismo" explodiu e começaram atividades repetitivas sem fim.

Tariq não mais dividia sua alegria em brincar e parou de falar. Alguns anos mais tarde ele foi diagnosticado como autista e mentalmente retardado. Isto impactou a família fazendo-a sair totalmente do curso em que estava. Perder um filho perfeito era além do pior que eu poderia imaginar. Como poderia ele crescer, tornar-se um adulto e não falar, ler ou escrever? Eu me lembro de pensar que eu nunca mais daria um sorriso ou uma risada novamente.

Os pais precisam de apoio e bons serviços para se conscientizarem daquilo que é, ou não, possível para sua criança. Eu jamais teria encontrado paz sem ter o devido apoio. Minha mulher, Cindy, madrasta de Tariq suportou as tempestades de seu autismo comigo e nunca desistiu do seu amor. Ela conheceu o autismo através do seu trabalho na área e me ajudou a aceitar o diagnóstico que eu tentava desesperadamente negar. Dois anos se passaram até que eu pudesse "assumir" a palavra autismo.

Aprendi em profundidade, através da minha própria experiência, aquilo que Kahlil Gibran disse em "O Profeta" quando escreveu que a alegria e a tristeza estão inexplicavelmente ligadas, pois a tristeza abre nossos corações à alegria na vida diária.

Aceitar que a condição de meu filho seria permanente era inacreditável. Não obstante, aprendi a celebrar o que ele poderia fazer e isto fez uma enorme diferença em nosso relacionamento. Ele se tornou uma criança feliz e eu aprendi a apreciá-lo e a aceitá-lo como ele era. Quando eu brincava com ele de um jeito que me parecia esquisito, ele respondia, ria e ficava feliz. Quando eu o forçava a olhar e fazer coisas “normais”, ele ficava frustrado e mal humorado. O autismo que eu odiava se vingava se recusando a partir.

No caminho da aceitação aprendi muitas coisas que me ajudaram. Meu filho me ensinou o significado de amor incondicional --- honrar o seu sagrado direito de ser. Aprendi a lição de que trabalho árduo não é tudo. A tristeza vem e vai. A ansiedade vem e vai. Aprendi que leva tempo para curar um coração partido. A felicidade e a compreensão podem se completar com aceitação. Nós não precisamos livrar-nos dos nossos pensamentos dolorosos e de sentimentos inconfortáveis. Aprendi que aceitação não significa desistir, mas sim viver com nossos desafios físicos e mentais.

Eu ainda tento fazer Tariq me olhar, sentar-se comigo, comunicar-se comigo. Simultaneamente, eu me ofereço para tomar parte em atividades que sei que o farão alegre e ofereço-lhe a comida de que gosta e a liberdade para ser ele mesmo. Não tenho controle sobre o autismo, mas tenho muito a oferecer em meu relacionamento com o meu filho.

Vim a compreender que a vida de Tariq faz uma diferença no mundo. Ele ainda é o meu garotinho. Coloca sua cabeça no meu ombro e eu nunca desisti da vontade de ouvir sua voz. Não o amo menos por causa disso, talvez mais, como eu nunca poderia imaginar.

Ele trouxe muitas pessoas para a minha vida e me ajudou a compreendê-las. E a compreender a mim mesmo. Ele me tornou um pai e um homem melhor. Seu maior presente para mim é uma pequena visão do coração humano, onde não é quem você conhece ou o que você sabe ou o que você tem --- mas quem você é. Meu filho só falou alto comigo uma vez --- nos meus sonhos, mas é como se através do seu autismo ele falasse comigo todos os dias.

Fonte: https://wrongplanet.net/author/RNaseef/

Tradução: Mão Amiga